Querido Diário
Pode ser uma atribulada saga arranjar espaço, tempo e disponibilidade para os papás voltarem a brincar depois de um bebé chegar às suas vidas... A imaginação e a comunicação são virtudes essenciais para quem quer sobreviver a este tempo parco em encontros...
Existem mulheres que depois de serem albarroadas pela maternidade, se separam durante muito tempo da mulher sensual que entra na brincadeira facilmente e que se diverte com o seu parceiro...Depois de passar por um forte terramoto, erupção e um tsunami tudo junto, tem no seu colo um ser que respira o mesmo ar, vive em simbiose...e é tão bom!! um cabelinho fofinho, um cheiro inigualável, um olhar profundo...sentem-se tão apaixonadas, tão conectadas que é difícil desviar a atenção para outro ser lá por casa...
Não existe o tempo certo para (re)iniciar as relações sexuais, o tempo certo para ser sensual e respirar erotismo... existe sim o tempo certo de cada mulher para voltar a ter a sua disponibilidade de volta para se dar ao outro...
Esse tempo não é determinado pelo OK do médico porque está tudo bem, nem pelas pressões do parceiro, nem pelas pressões que colocamos a nós próprias quando pensamos "coitado já não tem nada há tanto tempo, e ele merece... tem que ser um dia destes..."
Pode levar muito ou pouco tempo, mas só a mulher sabe...a processar as alterações do seu próprio corpo, pode não ser fácil sentir-se sexy nas suas novas formas, neste novo corpo que nos é tão estranho quanto o da vizinha, agora sobra pele, sobra barriga, e muitas vezes pinga leite...altera-se a sensibilidade, e juntam-se algumas dores que não pertencem ao cardápio...
Pode levar muito ou pouco tempo, mas só a mulher sabe...a desafiar as alterações hormonais em que o seu corpo está submerso, que não ajudam em nada a ter libido, a lubrificar e a ter uma bela recompensa por tais actividades lúdicas...a natureza é sabia, afinal temos uma cria para alimentar e proteger para bem da nossa espécie...
Pode levar muito ou pouco tempo, mas só a mulher é que sabe... para gerir os medos em relação ao que vai sentir quando algo se passar no seu pipi...as memórias do que aconteceu ainda podem estar na sua pélvis, na sua pele...
Pode levar muito ou pouco tempo, mas só a mulher sabe... pode voltar a apaixonar-se pelo seu parceiro e desejá-lo muito nesta fase...podem-se despertar as apetecências ao vê-lo desempenhar brilhantemente o seu novo papel de pai... O desejo pode ir aos píncaros por se sentir tão, mas tão feliz e deslumbrada com o facto do seu maravilhoso corpo ser capaz de gerar uma vida... que é uma mistura tão bem misturada dos dois...que delicia! que vontades...!
O tempo certo muitas vezes chega quando a mulher se sente cuidada, quando tem o seu próprio espaço para se conectar com as suas necessidade, para se sentir inteira, para processar a intensidade do que aconteceu...no parto abrem-se as entranhas não só do corpo mas de nós por inteiro... Por isso quando o nosso parceiro engendra um plano para nos dar tempo para dormir mais umas horas, pode ser aos nossos olhos, a atitude mais erótica dos últimos tempos ;)
No pós-parto, o grande elefante no meio da...cama é mesmo a falta de comunicação de como nos sentimos e o que pensamos... e outras vezes é mesmo o bebé que ocupa o lugar no meio da cama...Mas está tudo bem, com respeito pelos tempos, compreensão e imaginação para dar a volta por cima, vai tudo correr bem!!
Com carinho
A vossa fisioterapeuta do pipi
Ana Carina Portugal
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