São muitas as mulheres que me questionam se a fisioterapia as consegue ajudar a aliviar a sua dor no local mais intimo do seu corpo. Uma dor que vai até à alma, que as transforma a pouco e pouco.
Uma situação muitas vezes negligenciada pela própria mulher, que espera que se resolva espontaneamente com o tempo. Mas a grande maioria das situações só vai agravando, e interferindo cada vez mais na sua satisfação sexual, e na relação com o seu parceiro(a).
Quando a mulher decide finalmente procurar uma solução, e decide falar com alguém, existe por vezes uma desvalorização por parte de quem ouve, e atribui-se os sintomas a algo que a mulher imagina, a algo que está na sua cabeça. Algumas vezes sentem-se perdidas porque não sabem a quem recorrer, mesmo depois de avaliação médica em que lhe dizem que está tudo bem. Mas não está, e a causa pode estar na função do pavimento pélvico!
Dor nas relações sexuais, ou dispareunia, caracteriza-se por um desconforto ou dor, durante ou após a penetração vaginal. Essa dor pode ser superficial ou profunda. Normalmente permite a penetração. Quando não permite, trata-se de um vaginismo.
Depois de descartar outras causas médicas, o que pode originar a dispareunia superficial é um aumento de tensão muscular dos músculos do pavimento pélvico (para conhecer melhor o pavimento pélvico neste artigo ), alterações do nervo pudendo, hímen complacente e secura vaginal. A dispareunia profunda, no fundo da vagina, pode ter origem numa mobilidade das vísceras pélvicas (bexiga, útero e recto), inflamação intestinal, num aumento de tensão nos ligamentos que suspensores das vísceras, bem como numa fraqueza do pavimento pélvico. Só com uma avaliação específica por parte de um fisioterapeuta especializado em reabilitação pélvica, é possível averiguar quais as estruturas que estão a provocar a dor.
Quando a mulher está sexualmente excitada a sua vagina expande, aumenta a sua vascularização e lubrificação. Ou seja, a vagina prepara-se para a penetração. Para estas alterações fisiológicas acontecerem a mulher precisa de estar relaxada e sentir que é um momento seguro para o seu corpo, o que não vai acontecer se antecipa a dor.
Nestes casos, sempre que a mulher pensa em ter relações sexuais vai prepara-se para a dor, o que leva a uma contracção reflexa do pavimento pélvico. O seu corpo entra numa resposta de luta ou fuga. Deste modo cada vez que a mulher tenta a penetração e sente dor vai confirmar as suas expectativas, entrando assim num ciclo de tensão-dor. Esta resposta de contração reflexa surge naturalmente como uma defesa para algo que o corpo não quer que aconteça.
A sensação de dor que inicialmente poderia ser somente de causa estrutural, conforme a mulher vai deixando arrastar ao longo do tempo, vai centralizando (a nível do córtex cerebral), e vai sendo mais complexa de tratar.
Assim seria ideal quando a mulher começar a sentir desconforto ou dor, procurar ajuda de um profissional para perceber o que se passa. Procurar ajuda de um fisioterapeuta com especialização em reabilitação pélvica, porque a maioria das situações podem ser tratadas inicialmente com poucas sessões. A base do tratamento é a terapia manual e muito respeito pelo processo, que decorre ao ritmo de cada mulher.