Nas nossas aulas não ensinamos as mulheres a ter filhos. Isso é algo que todas o sabem fazer, ainda que muitas duvidem dessa capacidade.
Para compreender o que fazemos, é importante entender a necessidade que surgiu há décadas atrás para a iniciação de cursos de preparação para o parto.
Essa necessidade surgiu com a transferência do parto em casa para o hospital, com o intuito de melhores taxas de mortalidade. Até então, as mulheres não se preparavam, eram apenas apoiadas a lidar com a dor. Utilizavam-se as mais diversas estratégias no alívio da dor: deste vocalizações, movimentos, massagens...
Foi em 1933 que o obstetra Grantly Dick-Read (1890-1959) publicou o livro Natural Childbirth, tendo só em 1943 ganho mediatismo com o livro Childbirth Without Fear (Parto sem Dor).
Após o acompanhamento de várias mulheres que tinham os seus filhos em casa, muitas delas recusando a anestesia com clorofómio, o Obstetra concluiu que a atitude que a mulher tem em relação ao parto influencia consideravelmente na evolução do mesmo.
Para ele, confiança, compreensão e ausência de medo são os fatores essenciais do parto sem dor. Apontou a tríade "Medo - Tensão - Dor" como o principal motivo de desconforto e dor no parto. Sendo este medo causado sobretudo por crenças sociais.
Desta forma, o medo dá lugar a uma tensão protetora que não será só mental, originando tensão muscular quando a mulher entra em trabalho de parto, dificultando a dilatação.
Pretendia, portanto, resgatar o parto natural!
"Em Fevereiro de 1951, na então União Soviética, o ministro da Saúde decretou que se facilitasse o método psicoprofilático para aliviar a dor no parto", Sandra Oliveira em Nascer Saudável.
Em Setembro do mesmo ano todos os estudantes de medicina e obstetras em exercício colocavam o método em prática. O método, criado pelo psicoterapeuta I. Z. Velvovskii, tinha por base a teoria do reflexo condicionado de Ivan Petrovich Pavlov (1849 - 1836), e consistia num programa com três elementos: pedagógico, psicológico e fisiológico.
Explicava-se os princípios do método, a importância do sistema nervoso, da respiração, como respirar na fase de dilatação e no período expulsivo… Treinava-se o relaxamento ativo, na posição deitada treinava-se a inspiração abdominal, reter a respiração e fazer força como se estivesse a remar. Ensinava-se as mulheres a "comportarem-se" durante o expulsivo.
No final dos anos 70, a ativista Janet Balaskas, difundiu o movimento Parto Ativo:
"O parto ativo é natural e instintivo. É assim que uma parturiente se comporta quando deixada em liberdade. O meu objetivo, ao preparar uma grávida para o parto activo, é ajudá-la a entrar em contacto com o seu próprio instinto de parir."
Quando Janet teve o seu primeiro filho aplicou o método psicoprofilático e percebeu que a restrição de movimentos e a posição deitada eram prejudiciais ao processo natural de parir.
Janet enfatiza os movimentos, a liberdade em cada fase do processo de parto, as vocalizações... Elaborou então dez fundamentos sobre as vantagens do movimento no parto, além de argumentar os malefícios que a posição deitada implicava para a mulher e para o bebé.
Atuamos com base nestes fundamentos e no conhecimento sobre a fisiologia de parto, dos benefícios do equilíbrio entre fortalecimento e flexibilidade, do movimento, respiração, confiança…
Freddi, W. E. S. (1973). Preparo da Gestante para o Parto. Revista Brasileira de Enfermagem, vol.6 nr3, Brasília Apr/June 1973
Oliveira, S. (2017). Nascer Saudável - Gravidez e Parto Informado.(1ª Edição). Chá Das Cinco